GPRONLINE

28.11.07

Crónica do show por E.Saranga


Eis um relato do espetáculo de sábado, nos enviado por um amigo, a quem agradecemos desde já ... Todo o conteúdo é da responsabilidade da pessoa que o escreveu. Obrigado E.S. pelo crónica e convidamos mais uma vez a todos a nos enviarem as fotos,textos ou outro material relacionado com o nosso trabalho e que possamos utilizar neste espaço. Fiquem com o texto :

------------------------------------------------------------------------------------------------

As expectativas para a noite de sábado no Coconuts eram altas. Para os amantes dos concursos de beleza havia a final do Mister&Miss Coconuts, e para os amantes do Hip Hop o cartaz não poderia ser melhor: Gpro e Boss AC !!!
Mas foi necessário esperar pelo cair da madrugada para que dois Mc`s e um Dj muito bem conhecidos subissem aos palcos para gáudio dos presentes. Era a Gpro em palco, com Duas Caras e Sem Paus a colocarem-se em posição de combate enquanto Djo na rectaguarda dava-lhes o suporte necessário para o ataque.

E a entrada não poderia ter sido melhor...”É Gpro” fazia o público vibrar e fazer o coro, um som que podemos chamar de “anthem” da Label e que era aperitivo para o que se seguia. Sem Paus tratava de dar continuidade a entrada triunfal deliciando os presentes com a sua mais recente criação lírica e produtiva, um verdadeiro “Ecstasy” em forma de beat que nos faz lembrar o lendário produtor Pete Rock e que o público consumia agradavelmente, misturando-o sem preocupações com as rimas do rapper que incansavelmente dava tudo e mais alguma coisa para satisfazer as várias mãos que acenavam vigorosamente e cabeças que abanavam sinfonicamente. De tanto Ecstasy consumido, houve até quem tentasse subir ao palco para cumprimentar o artista...era o delírio!!!

E estavam todos preparados quando o Cara a Cara Boss fazia o 3º ataque da Gpro...
Foi deveras impressionante assistir a forma como o público cantava e dançava (ao estilo Dirty South) ao ritmo do som que Proofless com os seus dedos mágicos criou, e que Duas interpretava com muito floss. Um beat slow down, música lenta e batida pesada que fez Duas Caras puxar dos seus atributos de liricista de nobre distinção, jogando as suas rimas divertidas, inteligentes e interventivas a um flow de se lhe tirar o chapéu.
“É o Cara a Cara Boss, está na cara que vós nunca ouvistes um Dirty South na voz do Caras Fodasse”!! Eu ouví/ví mulheres e senhores gritarem isso...para não falar dos jovens que pulavam incansavelmente!! Era a prova viva de que o rap não está morto, e que em Moçambique existem jovens (e adultos, já agora) que se identificam muito com este estilo, um verdadeiro movimento de expressão da juventude.

Mas o show não terminava por aqui..Duas e Sem ainda em palco de microfone em punho provocavam o público: “Diz comigo quem sabe quem eu sou”...E a resposta surgia em uníssono: “Trezzzzzzzzz”!!!!
E lá estava ele, Trez Agah, no seu estilo inconfundível que ninguém entende, mas que porém todos aplaudem e reconhecem. E ele nem precisou pedir volume, Djo sempre atento alimentava a inspiração do rapper (mudando de beat e oscilando o volume), que contagiado pela audiência subia e descia do palco, cumprimentava o caloroso público sem nunca deixar de droppar a mensagem. Conquistador de massas, street rapper de eleição, dono e senhor das ruas, saiu do palco debaixo de uma forte ovação.

Era muito bom rap e muita emoção em tão poucos minutos, e o público pedia mais.
E como era dia de festa os Mc`s prontificaram-se a satisfazer os pedidos que vinham do assistência. Djo decide dar um cheirinho do beat de “Dzukupandza”, o que fez a temperatura do Coconuts subir para 100 graus e mais alguma coisa. Duas e Sem voltavam à carga, e largavam as rimas desta controversa (para os maus entendedores), porém aclamada crítica social. A emoção era tanta que Djo a pedido de Duas&Sem (que satisfaziam o pedido do público) teve que reintroduzir o beat. Mesmo com o “bis” os dois Mc`s não deixaram de dar tudo, a entrega e tenacidade eram maiores, o público correspondia com as mãos em cima e gritando fortemente o coro.

Era a despedida da Gpro, aliás, quase despedida, porque quando estes tencionavam retirar-se do palco o público pedia mais..E pediam “Cù Gordo”, o som do momento!! Duas e Sem ainda saíram do palco, subiram as escadas até ao backstage, mas não conseguiram resistir ao pedido do fabuloso público. O público enlouquecido gritava “Duas, Duas, Duas, Duas”...Foi então que este lá de cima respondeu em jeito de interrogação: “O Mega está aí”? O Coconuts quase foi abaixo tamanha era a satisfação manifestada em saltos e gritos da assistência que já adiantava o coro “Cú Gordo Cú Gordooo”. Djo nada mais podia fazer (a correr riscos de ser linchado) senão meter o beat..Ouviu-se o sonzinho do piano malandro do Proofless, sonzinho que ao invés de embalar para o sono agitava ainda mais o público que já não se continha. E Duas Caras não resistia:

“O Mega está aí”? – perguntava insistentemente ao público.

O Coconuts inteiro pegou fogo quando Duas dirigiu-se ao centro do palco. “Na verdade eu nem queria cantar esta música...”, disse ele, antes de ser interrompido pelo público que gritava muito mais alto o coro do hit de verão (como apelidou Duas Caras). Duas acompanhado pelo velho companheiro de trincheira (Sem Paus), nada mais podia fazer senão “dar o doce” que os presentes pediam. Desta feita as rimas eram cuspidas com muito mais raiva, Duas estava zangado, possuído pelo Diabo, e a ajuda do público fazia com que o lado punchliner do rapper viesse ao de cima. O leão estava à solta em pleno Coconuts, rugia bem forte para felicidade e delírio dos presentes que ajudavam no coro. Cima/baixo, o Coconuts inteiro gritava: “Mega, quem é esse mega? É o maior boiola que eu já ví! Gordo, oh seu gordo, acho que hoje eu vou foder um Mc. Filho da puta vai tomar no cúuuuuuuuuuuuu”!!

Impressionante...o som nunca passou nas rádios (e muito menos na televisão), mas a letra está toda ela (do príncipio ao fim) sem falha alguma, na ponta da língua dos jovens (e até senhores, volto a repetir) da cidade e arredores. A atitude do público teve direito a bis, mas eles (deliciados e insaciáveis) pediam por mais. Estavam com saudades de um espectáculo de rap doce e agressivo..essa é a verdade! E ainda dizem que o rap moçambicano está morto...

Começou e terminou de uma forma agressiva...Excelente actuação da Gpro que deixou o público agradado e a pedir por mais, demonstrando claramente que o Hip Hop tem adeptos e faz parte das ruas de Maputo. Viveram-se grandes momentos de poesia urbana, cuspidas com mestria e amor (e ódio por algumas vezes) por parte dos Mc`s da Gpro, momentos esses que sem dúvida os que estiveram presentes não esquecerão tão cedo.

Foi muito doce, muito forte...

Será que vocês estão preparados para o próximo show..?

Crónica por...
E.SARANGA